terça-feira, 25 de novembro de 2008

Compositores | Richard Wagner













Wilhelm Richard Wagner (Leipzig, 22 de Maio de 1813 — Veneza, 13 de Fevereiro de 1883) foi um compositor, maestro, teórico musical, ensaista e poeta alemão, considerado um dos expoentes do romantismo e dos mais influentes compositores de música erudita já surgidos. Com a sua criatividade, inúmeras inovações foram trazidas para a música, tanto em termos de composição quanto em termos de orquestração. Wagner expandiu e enriqueceu as possibilidades da orquestra sinfônica, chegando a inventar um novo instrumento, a trompa wagneriana. Uma idéia que aprimorou, já que não foi o primeiro a utilizá-la, consistia em identificar um personagem, um objeto ou uma idéia através de um motivo musical, Leitmotiv (ou motivo condutor[1]). Quando se ouve o tema musical, imediatamente vem à mente o personagem, o objeto ou a idéia que o autor deseja indicar.
Como compositor de óperas, criou um novo estilo, grandioso, cuja influência sobre a música da época e posterior foi forte. Polêmico ao extremo, angariou ao longo da vida inúmeros desafetos.
Além de músico era também poeta e escreveu o libreto de todas as suas óperas, inclusive a tetralogia O Anel do Nibelungo, em que a mitologia germânica recebe uma expressão dramático-musical. Para a encenação deste e doutros espetáculos grandiosos que concebeu, construiu com a ajuda de amigos e do rei Luís II da Baviera o teatro de ópera de Bayreuth.
Wagner se preocupava com todos os detalhes, em todas as fases da criação de uma obra de arte ou drama musical: desde a elaboração literária do texto inicial, sua transformação num poema, composição musical, orquestração, até cada detalhe da encenação. Por exemplo: a primeira ópera de O Anel do Nibelungo, O Ouro do Reno começa com um mergulho naquele rio, onde encontramos as míticas filhas do Reno a nadar alegremente na correnteza. Para criar a impressão de que elas estão realmente nadando, era necessária a criação de máquinas especiais. Wagner supervisionou pessoalmente a criação dessas máquinas, assim como todos os outros detalhes da encenação. Uma outra inovação introduzida por Wagner: em Bayreuth não se vê a orquestra nem o regente, concentrando-se a atenção do público exclusivamente no que se passa sobre o palco. No entanto, alguns criticam esse procedimento, alegando que o som da orquestra sai abafado e perde um pouco da sua potência.
Nesse sentido, pode-se dizer que a obra wagneriana é um Gesamtkunstwerk ou "obra de arte total". Embora o ideal de integração total das artes, teatro, poesia e música, já fosse parte da empreitada operística desde o seu nascimento com Claudio Monteverdi em Florença, raras vezes um criador se envolveu em todas as fases do projeto com o mesmo nível de perseverança que Wagner.
A obra wagneriana suscitou o aparecimento de um novo tipo de cantor, o Heldentenor (literalmente: "tenor heróico"), um tenor de resistência física extraordinária e grande potência vocal, capaz de enfrentar papéis como Siegfried, Tristão e Tannhäuser, em que ele tem que cantar e representar quase ininterruptamente por duas horas e meia ou mais.
Wagner representou para a cultura alemã do século XIX o mesmo que Verdi representou para a cultura italiana: uma espécie de ícone cultural, e aglutinador da identidade nacional quando o país ainda estava em formação.

Infância e juventude
Wilhelm Richard Wagner nasceu a 22 de maio de 1813 em Leipzig, na Saxônia, uma cidade onde já haviam vivido diversos outros artistas de renome, como Bach, Schumann, Mozart, Mendelssohn e Goethe. Sua mãe se chamava Johanna Rosine Pätz. Quanto ao pai, há dúvidas se seria o escrivão de polícia Carl Friedrich Wilhelm Wagner, que vivia maritalmente com Johanna (há dúvidas se eles eram realmente casados; a certidão de casamento nunca foi encontrada) e que morreu apenas seis meses após o nascimento do compositor, 23 de novembro) durante uma epidemia de febre tifóide, ou o pintor e ator Ludwig Geyer, um amigo de Carl. O que se sabe é que, quando o menino tinha apenas dois meses de idade, sua mãe fez uma viagem perigosíssima, atravessando a Alemanha toda ocupada pelas tropas de Napoleão, provavelmente levando o menino consigo, para visitar Ludwig em Teplitz. Tal viagem só pode ser explicada por alguma necessidade urgente. Anos mais tarde Wagner teria confessado a Nietzsche e a sua esposa Cosima que seu verdadeiro pai era Ludwig Geyer, segundo ela atesta no seu diário. Nos últimos anos da vida do compositor, quando ele montou sua casa em Bayreuth, ele pendurou um retrato de Ludwig Geyer na parede, e ele foi o primeiro a notar a estranha semelhança entre aquele retrato e seu filho Siegfried. Ludwig e Johanna se casaram em 28 de agosto de 1814, e um mês depois se fixaram em Dresden.
O pequeno Richard foi criado num ambiente artístico, mas não musical. Seus dois "pais" eram atores amadores, e Geyer também era pintor e dramaturgo. Ele começou a receber aulas de piano em 1820, e escreveu uma peça, Der bethlehemitische Kindermord (O Massacre dos Inocentes) que foi encenada com sucesso em 1821. Duas irmãs mais velhas de Wagner eram atrizes, Rosalie e Luise, e uma outra tornou-se cantora de ópera, Klara, tendo estreado em 1824 em La Cenerentola de Rossini. Seu tio Adolf era o intelectual da família, e na biblioteca dele Wagner adquiriu bastante cultura. Ele passou um tempo com o tio enquanto seu padrasto sofria de tuberculose.
Tudo que dizia respeito ao teatro enfeitiçava o jovem Wagner, que se sentia transportado da enfadonha realidade e da rotina da vida diária para um mundo de ilusão, mistério e fantasia intoxicante. Para esse garoto cheio de imaginação parecia haver algo de mágico até nos vestiários e armários de apetrechos cênicos. Foi aí também que um lado fortemente erótico da natureza dele foi despertado. O conteúdo dos guarda-roupas de suas irmãs atrizes "exercia uma sedução sutil, um tal charme sobre minha imaginação, que meu coração batia loucamente quando eu tocava um daqueles vestidos", segundo Wagner contaria mais tarde em sua autobiografia, Mein Leben.
Antes de morrer em 30 de novembro de 1821, Geyer já havia notado o talento musical de Wagner, ao ouvi-lo tocar no piano da casa. No entanto, é de se notar quão fragmentários, dispersos e desorientados foram seus estudos musicais nesses primeiros anos. Em 1822, Wagner entra em uma escola religiosa de Dresden. Sob influência de Goethe e de Shakespeare, nessa época escreveu a tragédia Leubald und Adelaide, com o nome Richard Geyer. Em 1825, Wagner começou a tomar lições de piano com um certo Humann. No ano seguinte, a família Geyer o deixa estudando em Dresden e muda-se para Praga. Em 1827, ele e a família retornaram para Leipzig, onde havia uma excelente orquestra, a Gewandhaus. Foi ali que ele começou a se nomear Richard Wagner, e onde entrou em contato pela primeira vez com a música de Beethoven. A Sétima Sinfonia teve sobre ele um efeito indescritível. Em 1829 ele ouviu Wilhelmine Schröder-Devrient no Fidelio; ela havia sido admirada nesse papel pelo próprio Beethoven. A fascinação que Wagner sentiu por ela chegou às raias da obsessão. Segundo Wagner, ela era "uma artista como eu nunca vi igual sobre o palco". Ele mandou a ela uma carta fervente de admiração, dizendo que se o mundo ainda ouvisse falar dele, seria graças a ela. Entre 1829 e 1830, Wagner começa a compor mais seriamente, incluindo duas sonatas para piano e um conjunto de cordas, seguidas de um arranjo para piano da Quinta Sinfonia.
A partir de 1830, os estudos musicais de Wagner prosseguiram tomando lições de violino com Robert Sipp, músico da Gewandhaus, harmonia com Christian Gottlieb Müller, contraponto, fuga e os princípios da forma de sonata com Christian Theodor Weinlig, Cantor da Igreja de São Tomás de Leipzig, uma venerável instituição musical que já existia desde a época de Bach. Antes de completar dezenove anos, Wagner já tinha composto duas sonatas para piano (em ré menor e fá menor), um quarteto de cordas em ré maior, uma ária para soprano, duas aberturas. Em 1831, ele inicia os estudos na Universidade de Leipzig, encorajado por sua mãe. No ano seguinte, compôs uma sinfonia em dó maior, executada no mesmo ano pela orquestra da Gewandhaus, bem recebida. No mesmo ano Wagner começou a compor uma ópera, Die Hochzeit (As Bodas), baseada numa lenda medieval, mas como sua irmã Rosalie não gostou do libreto, Wagner destruiu o trabalho, restando apenas umas poucas páginas de música.
A primeira ópera completa de Wagner, Die Feen (As Fadas) foi completada em Janeiro de 1834, mas só estreou em 1888, depois da morte do compositor. O procedimento de trabalho foi o mesmo que Wagner adotou no restante de sua carreira: um libreto em prosa, que depois era versificado, e por fim a partitura musical. O libreto era do próprio Wagner, baseado em La donna serpente de Carlo Gozzi, que seu tio Adolf tinha traduzido para o alemão. Nessa época, Wagner entrou em contato com a música de Bellini, que ele passou a idolatrar como um verdadeiro deus da ópera. Wagner simplesmente adorava a Norma, I Capuleti e i Montecchi, e outros frutos da musa de Bellini. Também nessa época, o compositor torna-se amigo do novelista alemão Heinrich Laube. Num artigo de Junho que ele escreveu para o Neue Zeitschrift für Musik, um jornal de Leipzig pertencente a Laube, ele chega mesmo a atacar a ópera alemã, com suas árias laboriosas, insossas e sem paixão, enquanto que as italianas são melodiosas, bem adequadas à voz, e agradáveis de se ouvir. Esse jornal foi o primeiro espaço aberto para os ensaios escritos por Wagner.
Em 1834 ofereceram a Wagner o cargo de regente no teatro de Magdeburgo. Durante a entrevista com o diretor do teatro na qual conseguiu este emprego, Wagner foi informado de que sua primeira tarefa seria reger Don Giovanni no próximo domingo. Provavelmente não haveria tempo para nenhum ensaio. Assim, Wagner estreou como regente, função na qual sua atuação sempre foi muito louvada. A paixão arrebatadora, o vigor e a energia com que ele regia, por exemplo, a Sétima Sinfonia de Beethoven conquistaram o púbico e a crítica. Quanto à Nona, desde a estréia daquela obra em 1824, ela tinha caído no esquecimento, considerada em toda parte como inexecutável. Foi Wagner quem deu nova vida àquela obra prima do mestre de Bonn.
A composição de Das Liebesverbot (Amor Proibido), segunda ópera de Wagner, ocupou o mestre durante todo o ano de 1835, tendo o libreto sido escrito pelo próprio Wagner no ano anterior. Ele sempre escreveu os libretos de suas próprias óperas, o que o torna uma exceção na história do drama musical, mas ele era egocêntrico demais, e sua concepção artística abrangente demais para que ele pudesse confiar essa tarefa a outra pessoa, embora ele mesmo não se considerasse um grande poeta. Ainda em 1835, morre seu tio Adolf.
A primeira ópera de Wagner apresentada ao grande público, Das Liebesverbot estreou na condução do próprio autor a 29 de março de 1836 e foi um fracasso de proporções colossais, que abriu um rombo gigantesco nas já combalidas finanças do compositor. Wagner vivia endividado, e vários fatores contribuíam para isso. Ele tinha o vício do jogo. Ele tinha um apetite insaciável pelas coisas luxuosas, os móveis em estilo requintado, as roupas finas e os perfumes. Ele dava festas suntuosas para seus amigos e era um grande esbanjador. Wagner viveu sempre assim, pedindo dinheiro emprestado e fugindo dos seus credores, até que ele conheceu Luís II, rei da Baviera, que foi quem o salvou dos apuros financeiros.

A 24 de Novembro de 1836, Wagner casou-se com Christine Wilhelmine "Minna" Planer, uma actriz filha de um mecânico que ele conhecera em Magdeburgo dois anos antes. Esse casamento não foi feliz. O temperamento doméstico e burguês de Minna e seu baixo nível de cultura faziam dela uma companheira inadequada para o gênio extravagante e inquieto que era Richard Wagner.
Em fins de 1836 os débitos de Wagner tinham se acumulado a tal ponto que ele corria o risco de ir parar na prisão por dívidas. Seus credores estavam espalhados por toda a Alemanha, e a única solução que ele teve foi fugir do país. Através de um amigo, Louis Schendelmeisser, que conhecia o diretor do teatro de Riga, na Letônia, Karl von Holtei, Wagner conseguiu ser nomeado regente do teatro daquela cidade, onde vivia uma considerável colônia de alemães. E foi para lá que ele partiu, chegando nessa cidade portuária do mar Báltico no começo de setembro de 1837.

Riga 1837-1839
Em Riga, Wagner teve sérios conflitos com o diretor da ópera, Karl von Holtei. Uma das razões foi a escolha do repertório, mas houve também desavenças pessoais. Circulavam rumores na cidade a respeito do homossexualismo de Holtei, e para calar esses rumores, ele fingia se interessar por várias damas da companhia. Wagner tinha persuadido Minna a abandonar a carreira teatral, e ficou irritado com as tentativas persistentes de Holtei de atraí-la de volta para o teatro. Quando Wagner soube que Holtei estava visitando Minna em sua ausência, e que ele a havia apresentado a um bonito rapaz, um comerciante local, as relações entre o regente e o diretor se tornaram abertamente hostis. No final de 1838 a companhia deveria se apresentar em Mitau. Wagner pegou um resfriado muito forte, mas mesmo assim Holtei insistiu para que ele viajasse junto com os outros. O teatro no qual Wagner teve que trabalhar em Mitau era gelado, e o que era um simples resfriado se transformou numa febre tifóide, que pôs em risco a vida do compositor.
Quando a companhia regressou a Riga, Holtei foi forçado a abandonar a cidade, pois os rumores suscitados pela sua escandalosa reputação atingiram um ponto de saturação. Um novo diretor foi nomeado, mas a direção do teatro também decidiu despedir Wagner, por considerá-lo um sério risco, já que ele poderia ser preso por dívidas a qualquer momento. A situação tornou-se insustentável para Wagner, que praticamente teve que fugir de Riga para escapar dos seus credores. Ele não tinha sequer um passaporte, que lhe havia sido negado pelas autoridades a mando dos credores justamente para prevenir tal fuga.
Paris 1839-1842
Indo por mar até Londres, Wagner seguiu para Paris, onde foi tentar a sorte. Mas a cidade estava dominada naquela época por uma figura gigantesca: o compositor judeu-alemão Giacomo Meyerbeer. Além de ser grande compositor, Meyerbeer era também um astuto homem de negócios. Com seus espetáculos grandiosos e calculados exatamente para satisfazer o gosto do público, ele mantinha o monopólio da bilheteria da Ópera de Paris.

As tentativas de Wagner de encenar Das Liebesverbot em Paris fracassaram, e suas dívidas se acumularam, culminando na sua prisão por dívidas em outubro de 1840. Foi na prisão que Wagner terminou a partitura da sua terceira ópera, Rienzi, que ele começara em Riga. Assim que saiu da prisão, porém, Wagner já tinha na cabeça a idéia de uma outra ópera, Le Vaisseau Fantôme (O Navio Fantasma), e começou a compô-la imediatamente. Uma das primeiras inspirações foi a própria viagem até Paris, em que, em certo momento, o compositor embarcou num velho navio, enfrentando uma terrível tempestade. A situação fez Wagner lembrar da lenda do "Holandês Maldito". A partitura ficou pronta a 19 de novembro de 1841.

Nos últimos meses em Paris, Wagner conseguiu ganhar algum dinheiro fazendo arranjos de partituras de óperas de Donizetti para canto e piano. Essa estadia de Wagner na capital francesa não foi um desastre total. Ele foi apresentado a Liszt, a Berlioz, e a Meyerbeer. A reação do famoso mestre em relação ao jovem compositor não foi hostil. Meyerbeer fez tudo que pode para ajudar Wagner, escrevendo cartas de recomendação a vários teatros da Alemanha. Em março de 1841, Meyerbeer escreveu o seguinte ao diretor da ópera de Dresden, numa carta complementar à partitura completa de Rienzi que Wagner mandara ao mesmo diretor:

Herr Richard Wagner de Leipzig é um jovem compositor que tem não somente uma sólida educação musical mas também muita imaginação; além disso ele tem uma ampla cultura literária e sua situação merece a simpatia de seu país natal em todos esses aspectos. Seu grande desejo é ter sua ópera "Rienzi" representada em Dresden. Eu achei algumas partes que ele tocou para mim dessa obra cheias de imaginação e considerável efeito dramático.

Wagner escreveu-lhe em agradecimento:

Que Deus lhe dê alegria em todos os dias de sua linda vida e preserve seus olhos de todo pesar é a prece sincera de seu mui devotado discípulo e servidor, Richard Wagner.

Em Abril de 1942, ele e sua esposa deixaram Paris, levando consigo toda sua música e os ainda inacabados manuscritos de Le Vaisseau Fantôme.
A vida em Dresden
Graças à influência de Meyerbeer, Wagner conseguiu estrear Rienzi no Teatro da Corte de Dresden a 20 de Outubro de 1842 com grande sucesso, e logo depois foi nomeado Kapellmeister ou diretor artístico e regente do mesmo teatro. Ou seja, uma espécie de "rei" da vida musical na cidade. O cargo era vitalício e o salário muito bom. Em 2 de Janeiro do ano seguinte é estreado Der fliegende Hollände (o agora acabado Le Vaisseau Fantôme). Também em Dresden estreou mais uma ópera de Wagner, Tannhäuser em 19 de Outubro de 1845, com pouco sucesso. A obra havia sido completamente escrita na cidade, e terminada em 13 de Abril.
Numa ida para Berlin encontrou Mendelssohn. Nessa época também visitou Albert, um de seus irmãos, cuja filha Johanna desempenhou o papel de Elisabeth em Tannhauser.
Nessa época, o compositor se interessa cada vez mais pelo drama grego, em particular pela trilogia Oresteia de Ésquilo. Para a criação de Lohengrin o autor leu os clássicos gregos. Ele começou a associar a qualidade dos dramas com os mitos dos povos, e considerou que poderia realizar o mesmo processo em relação às lendas germânicas assim como os gregos. Wagner descobriu a obra de Jacob Grimm, e passou a estudar épicos alemães e a mitologia nórdica. Um de seus escritores favoritos era o poeta Wolfram von Eschenbach, cuja obra Parzival serviu de inspiração para duas de suas obras, Lohengrin e Parsifal. A primeira teve seu libreto terminado em Novembro de 1845, e a obra foi completada em 28 de Abril de 1848. Nessa obra, Wagner desenvolve o conceito da "melodia contínua".

Actividades revolucionárias
Se quisesse, em Dresden Wagner poderia levar uma vida tranquila e livre de preocupações financeiras, totalmente dedicado à sua arte. E seria isso que teria acontecido se ele não tivesse se metido em política. Tudo começou quando Wagner tentou introduzir uma série de reformas na orquestra do teatro, cujo principal objetivo era melhorar o desempenho dos músicos a um nível que lhe satisfizesse. Os salários eram baixos, e os músicos forçados a trabalhar demais, com prejuízo à saúde e queda no nível de qualidade. Uma das primeiras coisas que Wagner notou foi a discrepância enorme entre os salários irrisórios dos músicos da orquestra e as somas exorbitantes angariadas por certos cantores solistas com muito menos talento musical; essa anomalia ele estava disposto a corrigir. Músicos velhos deveriam ser aposentados, e instrumentos velhos substituídos por outros novos. O sistema de promoção deveria ser baseado no talento musical, não no tempo de serviço. Ao insistir nessas reformas, Wagner passou a ser muito mal visto pelos seus superiores. Nenhuma instituição esclerosada vê com bons olhos um reformador.
Em Fevereiro de 1848, no mesmo mês em que Marx e Engels publicaram o Manifesto do Partido Comunista, estourou na França a revolução que depôs Luís Filipe, o rei burguês. Aos gritos de liberté, égalité, fraternité, sublevações estouraram por toda a Europa contra as monarquias absolutas. Na Itália e na Alemanha alguns dos revoltosos tinham por objetivo a unificação dos respectivos países. Wagner também ficou entusiasmado pelos ideais revolucionários. De repente, a música passou para segundo plano nas suas preocupações imediatas e a política para o primeiro. No mesmo ano, o agitador anarquista russo Mikhail Bakunin se refugiou em Dresden, e ele e Wagner se uniram em estreita amizade. Somente numa sociedade alemã totalmente transformada Wagner podia ver a possibilidade de realização dos seus ideais. Os ideais de Wagner nessa época eram fortemente esquerdistas, e ele odiava a pomposidade e a perversidade da corte de Dresden. Ele sonhava com a criação de uma nova sociedade alemã, na qual o Volk encontraria expressão numa nova cultura alemã. Movido por esses ideais, Wagner entrou para o Vaterlandsverein, um partido político fundado em março de 1848 para lutar pelo estabelecimento da democracia. Lá, Wagner, Bakunin e outros revolucionários discutiam revolução, republicanismo, socialismo, comunismo e anarquismo.
Sua mãe faleceu a 9 de Janeiro de 1848. Em Junho, Wagner juntou-se à Guarda Comunal Revolucionária e publicou dois poemas revolucionários e um artigo. O primeiro desses poemas, Gruss aus Sachsen an die Wiener (Saudações Saxãs aos Vienenses) parabenizava os austríacos por terem forçado seu imperador a fugir, e incitava os saxões a seguirem o exemplo. O segundo, Die alte Kampf ist's gegen Osten (A Velha Luta é contra o Leste) conclamava a uma cruzada contra a Rússia reacionária. No artigo intitulado "Que relação existe entre a empreitada republicana e a monarquia?", Wagner descreve a nova utopia saxônica que surgiria após a queda da monarquia, com sufrágio universal, um exército do povo, congresso unicameral e uma nova economia burguesa.
A 8 de Maio de 1849 Wagner publicou um artigo anônimo no Volksblätter intitulado "A Revolução". Era um texto altamente inflamatório, glorificando a deusa Revolução. Apesar de anônimo, ninguém parecia ter dúvidas a respeito da autoria.
A 1 de Abril Wagner regeu uma apresentação pública da Nona Sinfonia de Beethoven. No final da apresentação Bakunin se levantou do meio da platéia, apertou a mão de Wagner e disse bem alto para que todos ouvissem que, se toda música que já foi escrita se fosse se perder na conflagração mundial que estava para acontecer, esta sinfonia pelo menos teria que ser salva.
A 3 de Maio de 1849 o rei da Saxônia recusou as exigências dos democratas e ordenou que a Guarda Comunal se dissolvesse. Numa reunião extremamente exaltada que se seguiu na mesma tarde, os membros do Vaterladsverein decidiram oferecer resistência armada às autoridades, que contou com a participação de Wagner. Ele correu à casa do tenor Tichatschek e persuadiu a aturdida esposa do tenor a entregar as armas que seu marido guardava em casa; a seguir foi inspecionar as barricadas. Tropas prussianas estavam a caminho da cidade, a fim de esmagar a revolução. Wagner tomou posse das impressoras do Volksblätter e mandou imprimir panfletos revolucionários, ao mesmo tempo que mandava seu amigo Semper inspecionar as barricadas e mandava comprar granadas. Wagner passou a sexta-feira 4 de maio junto com Bakunin. No dia seguinte as primeiras tropas prussianas entraram em Dresden, e havia lutas pela cidade toda. Wagner subiu à torre da Kreuzkirche, que era utilizada pelos rebeldes como um excelente ponto de observação. De lá, ele lançou mensagens atadas a pedras a Heubner e Bakunin sobre os movimentos das tropas inimigas. Wagner passou a noite na torre, sob bombardeio contínuo das tropas prussianas. No dia seguinte ele escapou, foi até sua casa e fugiu com Minna para a cidade de Chemnitz (antes Karl-Marx-Stadt), para deixá-la em lugar seguro; mas para horror dela, ele resolveu voltar para o centro da revolta. Em Dresden havia lutas casa a casa, e na prefeitura ocupada pelo rebeldes, os homens estavam desanimados e exaustos após seis noites sem dormir. Wagner foi despachado para Freiberg para chamar reforços. Mas antes que Wagner pudesse retornar a Dresden com reforços de tropas a revolução já tinha sido esmagada.
Wagner juntou-se a Heubner e Bakunin a caminho de Freiberg e sugeriu que eles montassem um governo provisório em Chemnitz. Naquela noite, Wagner e Bakunin dormiram no mesmo sofá. Quando Wagner acordou, Bakunin e Heubner tinham fugido. Wagner correu para onde estava Minna, e os dois rapidamente abandonaram o país.

Exílio 1849-1860
Os líderes da revolta, Bakunin, Otto Leonhardt Heubner e August Röckel foram condenados à morte (mais tarde as sentenças foram comutadas em prisão perpétua), e se Wagner ousasse pôr os pés em qualquer território alemão teria o mesmo destino, já que os monarcas absolutistas estavam todos unidos contra ele. Wagner se viu então obrigado a passar onze anos fora da Alemanha. Foi um exílio amargo para o compositor. Ele não gostava de Londres, de Paris nem da Suíça, falava mal o francês e achava duro suportar a vida fora da Alemanha.
A rota de fuga passava por Weimar, onde Liszt acolheu Wagner e Minna por alguns dias. Liszt deu algum dinheiro a Wagner e aconselhou que ele fosse para Paris, enquanto Minna ficaria com Liszt. Wagner despediu-se então com grande emoção da esposa e do amigo e seguiu às pressas para a capital francesa, seguindo uma rota sugerida por Liszt que passava pela Suíça e era menos provável que fosse vigiada pela polícia.
Um dia em Paris Wagner entrou na loja Schlesinger de partituras e instrumentos musicais e viu que Meyerbeer estava lá. Ao ouvir a voz de Wagner, Meyerbeer se escondeu atrás de uma cortina, mas Wagner o puxou de lá; mas Meyerbeer, bastante embaraçado, não queria conversar nem ser visto na companhia do notório revolucionário fugitivo, o que é bastante compreensível; afinal de contas, Meyerbeer era na época Oficial da Corte Real da Prússia.
Após essa curta estadia em Paris, Wagner seguiu para a Suíça, onde passaria a maior parte dos seus anos de exílio, principalmente em Zurique. Sua esposa juntou-se a ele meses mais tarde. Apesar de exilado, as óperas de Wagner continuavam sendo representadas na Alemanha e continuavam lhe rendendo dinheiro, o que não impedia que o compositor continuasse cheio de dívidas, devido aos seus hábitos perdulários.
Minna estava cada vez mais rabugenta. Apenas seis meses depois de casados eles já haviam se separado e pensado em se divorciar. Depois se reuniram de novo, mas as brigas, separações e reuniões continuaram. Ela não aprovava de maneira nenhuma o comportamento do marido, e nunca o perdoou pelo seu envolvimento na revolução de Dresden, que destruira para sempre os seus sonhos de uma vida segura como a esposa de um Kapellmeister. Em outubro de 1848, já iniciara o trabalho na gigantesca saga O Anel do Nibelungo, um trabalho hercúleo cuja criação poética e composição musical consumiriam ao todo 26 anos da vida do compositor.
Em Outubro de 1850 Otto Wesendonck, um rico empresário, parceiro numa firma de seda de Nova Iorque, chegou a Zurique com sua jovem esposa Mathilde. Wagner ficou conhecendo o casal, e se encantou com a jovem e bela Mathilde, sua sensibilidade poética e gosto pela música. Otto também era um homem de grande cultura e refinamento, e passou a ajudar Wagner de muitas maneiras, inclusive financeiramente. Iniciou-se uma abundante troca de correspondência entre Wagner e os Wesendoncks. No mesmo ano são publicados os artigos Die Kunst und die Revolution em fevereiro e Das Judentum in der Musik em Setembro. Já no início do ano seguinte é publicado o artigo Oper und Drama, em que o compositor define a ópera como uma globalidade, e não somente música e teatro.
Em 1857 os Wesendoncks construíram uma mansão próxima ao lago de Zurique, num lugar chamado "Montanha Verde". Em seus magníficos jardins foi construída uma segunda casa, que Mathilde batizou de Asyl (refúgio), que seria segundo ela "um verdadeiro refúgio de paz e amizade"; Otto propôs que Wagner fosse morar lá junto com Minna. Wagner aceitou o convite, agradecido; há muito tempo que ele estava à procura de um lugar isolado e calmo onde ele pudesse compor em paz. Minna cuidaria da casa, e a perspectiva de viver a poucos metros de distância da sua Musa encantava Wagner. Quanto à relação que existia entre Wagner e Mathilde, Otto sabia de tudo e não se importava. Só Minna não sabia de nada.

Entre 1857 e 1858, Wagner interrompeu a composição de Siegfried e começou a compor Tristan und Isolde. Na imagem, o casal na concepção de Herbert Draper (1863–1920).
Entre Novembro de 1857 e 1 de Maio de 1858 Wagner compôs cinco canções para voz e piano sobre poemas de autoria de Mathilde, chamadas de Wesendonck Lieder, que foram orquestradas mais tarde. A paixão entre eles é clara no texto dessas canções. Nessa mesma época, Wagner interrompeu a composição de Siegfried (Das Rheingold e Die Walküre já haviam sido compostas) e começou a compor Tristan und Isolde. Wagner não voltaria a trabalhar no Anel por sete anos.
Todas as noites no Asyl havia serões filosófico-literário-musicais nos quais se discutia interminavelmente Schopenhauer, budismo, abstrações intelectuais e as bases filosóficas da arte. Minna também era convidada, mas era praticamente ignorada. Minna se sentia humilhada e insultada por essa mulher brilhante e atraente que toda manhã vinha conversar com seu marido, dirigindo a ela quando muito uma ou outra frase condescendente. Minna estava ciente de que sua própria beleza estava se esmaecendo, e tomava ópio e outras drogas para aliviar os sintomas de um mal cardíaco que a acometia. Wagner via sua relação com Mathilde como uma espécie de comunhão espiritual entre duas almas gêmeas que se entendiam perfeitamente e compartilhavam os mesmos ideais de arte e cultura.
Uma certa manhã de Abril de 1858, Minna viu um empregado sair de sua casa carregando uns rolos de papel. Ela o deteve e examinou o que ele estava carregando. Havia papel de música escrita por Wagner, o esboço do prelúdio de Tristão e Isolda e, junto com este, uma carta de amor de Wagner a Mathilde. Aquilo que Minna já suspeitava agora estava confirmado. Ela entrou intempestivamente no quarto onde estava Wagner e esfregou a carta na cara dele. Ele pediu a ela que se acalmasse e não fizesse escândalo. A seguir, Minna foi ter com Mathilde e, proferindo impropérios, esfregou a carta na cara dela também. O escândalo foi tão grande que Wagner e Minna foram obrigados a deixar o Asyl. Enquanto ela voltou para a Saxônia, ele partiu para Veneza. Wagner e Minna se separaram, dessa vez em definitivo, e o divórcio veio logo depois. Minna nunca foi capaz de entender o seu marido; ela é o modelo de Fricka em Die Walküre.
De Veneza, Wagner foi expulso em março de 1859, voltando para Zurique, e estabelecendo-se em Lucerna. Em Agosto ele terminou a partitura de Tristão e Isolda. No fim de ano, ele foi a Paris, passando vários meses naquela cidade, convidado pelo próprio imperador Napoleão III a montar Tannhäuser. Assim Wagner conseguiu pala primeira vez realizar seu sonho de montar uma ópera sua em Paris, mas o espetáculo terminou em tumulto, com vaias, apupos e manifestações de desapreço ao compositor alemão. Wagner atribuiu grande parte dessas agitações aos discípulos de Meyerbeer que, segundo ele, vieram estragar o seu espetáculo. O famoso ensaio de Wagner, Das Judentum in der Musik (O Judaísmo na Música) é em parte um ataque contra Meyerbeer.
Dom Pedro II
Ainda em Março de 1857 o embaixador brasileiro em Leipzig apareceu inesperadamente em Zurique trazendo uma mensagem para Wagner. Sua Majestade Imperial Dom Pedro II, Imperador do Brasil, estava muito interessado no trabalho de Wagner, e queria que ele fosse para o Rio de Janeiro. Wagner ficou tão surpreso, ele não podia acreditar. Ele mandou partituras ricamente encadernadas e autografadas de O Navio Fantasma, Tannhäuser e Lohengrin para o Brasil, e ficou aguardando uma resposta. Passaram-se muitos meses, e a resposta não veio. Wagner pensou que tinha sido alvo de uma brincadeira. Só muitos anos mais tarde, quando o próprio Pedro II compareceu para cumprimentá-lo pessoalmente no primeiro Festival de Bayreuth, é que Wagner ficou sabendo que o interesse do imperador na sua obra era verdadeiro. Ainda hoje pode-se ver marcado no livro de visitas do hotel em Bayreuth marcado modestamente: Nome: Pedro II, Ocupação: imperador. É de se especular por que Wagner ficou esperando uma resposta e não obteve nenhuma; mas o mais provável é que, por maior que fosse o interesse de Pedro II em trazer Wagner para o Brasil, seus ministros o tenham dissuadido. Afinal de contas, não devemos nos esquecer de que Wagner na época era considerado um revolucionário criminoso, procurado pela polícia na própria Alemanha.
Luís II e Cosima
Em seus onze anos de exílio Wagner tentou várias vezes obter anistia junto ao rei João da Saxônia, mas em vão. Em 1860, finalmente, a anistia foi concedida, e Wagner pode entrar de novo em território alemão. No final de 1861 ele retoma a obra Die Meistersinger von Nürnberg, terminando o libreto no final de janeiro do ano seguinte. Entretanto, Wagner estava numa situação ruim, marcada por viagens e dívidas. Chegou a se esconder em Stuttgart entre março e abril de 1864.
Entretanto, em 10 de Março, Luís II torna-se rei da Baviera com apenas dezenove anos de idade, com a morte de seu pai, o rei Maximiliano II. O novo rei era alto, forte e bonito; tinha gosto requintado, era grande apreciador das artes, e fervoroso admirador de Wagner e sua música. Uma das primeiras coisas que o rei fez assim que subiu ao trono foi mandar chamar Richard Wagner à sua corte, que foi recebido em 4 de Maio.
Luís II era homossexual, mas a atração que ele sentia por Wagner era espiritual, não física. Era o gênio musical que ele admirava. Entretanto, livros, artigos e até mesmo filmes (como Ludwig de Visconti) têm aparecido aventando uma possível relação homossexual entre Wagner e Luís.
O rei assumiu todas as dívidas de Wagner e concedeu a ele uma pensão de quatro mil florins por ano, suficiente para viver luxuosamente. Wagner passou a residir então numa mansão chamada Villa Pellet, próxima à residência de verão do rei, Castelo de Berg junto ao lago Starnberger (onde posteriormente Luís II morreu afogado). Todos os dias a carruagem real vinha buscar o compositor para levá-lo ao palácio, onde ele passava horas de puro arroubamento discutindo arte com o rei.
No verão de 1864 chegaram à Villa Pellet Hans von Bülow, o regente, pianista e grande amigo e admirador de Wagner, que havia regido várias de suas óperas, e sua esposa Cosima, a filha de Franz Liszt, que Wagner conhecera quando ela era ainda criança. O casal ficou hospedado na residência de Wagner e, pouquíssimo tempo mais tarde, Cosima estava grávida, mas não de Hans. O regente, bastante doente naquela época, pode não ter percebido muito bem o que estava acontecendo, mas quando ele se deu por si já era tarde demais. Sua esposa Cosima e Wagner estavam apaixonados. O pai de Cosima achou essa relação abominável. Ele se deprimiu mais ainda quando Cosima foi o contou que queria se converter ao protestantismo para se casar com Wagner. Cosima conseguiu obter o divórcio de Bülow em 1870. Wagner recebera a notícia da morte de Minna em Dresden quatro anos antes. Wagner e Cosima se casaram a 25 de Agosto de 1870.

Cosima revelou-se uma companheira muito mais compreensiva do que Minna. Ela era uma mulher refinadíssima, e não era para menos; afinal de contas, ela era filha de Franz Liszt. Mesmo as relações de Wagner com outras mulheres não a apoquentavam; ela conhecia a alma do marido, sabia do que ele precisava. Havia entre eles uma fidelidade profunda, nascida de uma verdadeira adoração de Cosima pelo deus Richard Wagner. Os dois chegaram até mesmo a fazer um pacto: quando Wagner morresse, ela morreria junto com ele, "numa espécie de eutanásia", o que lembra o final de Tristão e Isolda. Lembra também o duplo suicídio de Hitler e Eva Braun no porão da chancelaria de Berlim em abril de 1945, ou Brünnhilde se jogando sobre a pira funerária de Siegfried.
Em 1865, as vultosas somas que o rei da Baviera estava gastando com Wagner, sem falar no controle que o compositor exercia sobre a política do reino através do seu amigo, causaram uma crise constitucional que pôs a perigo a coroa de Luís II. O rei não teve nenhuma solução senão banir Wagner da Baviera em 6 de dezembro. Com Cosima, Wagner foi então se estabelecer em Tribschen na Suíça, mas a generosa pensão de Luís II continuou a ser paga.
Wagner e Cosima estavam jantando tranqüilamente na sua residência de Tribschen quando chegou uma carta de Luís, a 15 de Maio de 1866. O rei estava disposto a renunciar ao trono e abandonar tudo para ir viver junto a Wagner. A situação era delicada. Com muito tato, Wagner e Cosima escreveram a ele dizendo que, se o rei cometesse essa loucura, Wagner perderia sua pensão, jogando a todos numa situação calamitosa. Wagner aconselhou a ele que fosse paciente, se dedicasse aos seus deveres para com a nação, e o deixasse criar suas obras em paz. A situação política era alarmante. Como parte dos planos de Bismarck para a unificação alemã, a Prússia estava prestes a declarar guerra à Áustria. A Baviera teria que escolher um dos lados nessa guerra. Escolheu o lado da Áustria, que foi derrotada. Mas Bismarck permitiu que Luís II conservasse a sua coroa.
Em 1868 Wagner travou amizade com Nietzche, então professor de filologia na Basiléia, que passou a freqüentar assiduamente a sua casa de Tribschen. Os dois se encontraram no fim do ano em Leipzig. A relação com Nietzsche foi muito especial na vida de Wagner, já que Nietzsche, fiel adorador, via no compositor a personificação do Super-Homem. No entanto, essa relação especial acabou em mútua desilusão, na medida em que o equilíbrio mental de Nietzsche deteriorava. Um dos pontos de desinteresse de Nietzsche pela obra do compositor eram os frequentes pontos em comum com a temática e as preocupações cristãs.
O ciclo do Anel do Nibelungo ainda não estava completo, mas a estréia de Das Rheingold se deu em Munique a 22 de Setembro de 1869 sob o patrocínio de Luís II, contra a vontade de Wagner, que planejava guardar a estréia para o novo teatro que ele estava planejando construir em Bayreuth. No acordo que Wagner havia assinado com o rei da Baviera, contudo, Luís era proprietário de todas as partituras, com direito a encená-las onde bem entendesse.
A estréia de A Valquíria se deu no mesmo Teatro da Corte de Munique, a 26 de Junho de 1870, também contra a vontade de Wagner, que não esteve presente nessa estréia nem na anterior. No auditório estavam presentes Liszt, Brahms, Saint-Saëns e o violinista Joseph Joachim. O país estava num clima de guerra, e o público adorou as donzelas guerreiras de Wagner. O público reagiu com aplausos e ovações ao grito de batalha de Brünnhilde, e às palavras de Wotan denn wo kühn Kräfte sich regen, da rat' ich offen zum Krieg ("Quando poderes audaciosos se enfrentam, eu geralmente aconselho a guerra"), o público todo se levantou e aplaudiu, transformando o espetáculo num verdadeiro espetáculo de chauvinismo germânico, para embaraço de alguns franceses presentes, entre eles Saint-Saëns.
A guerra entre a França e a Prússia estourou a 19 de julho; desta vez todos os estados alemães estavam unidos com a Prússia, inclusive a Baviera. A guerra terminou com a proclamação do Império Alemão (Segundo Reich). A Luís II foi permitido preservar sua coroa, assim como a outros príncipes alemães, mas agora submetidos ao Rei da Prússia (Kaiser ou Imperador Alemão).
O primeiro Festival de Bayreuth
Há muito tempo Wagner sonhava com a construção de um teatro que fosse uma meca, um centro de peregrinação para os amantes de sua arte de todo o mundo. Luís II, que tinha paixão pela arquitetura e adorava construir majestosos castelos e suntuosos palácios, apoiava Wagner nesse projeto. Mas as finanças do reino estavam combalidas pela guerra, e havia forte oposição política a mais esse projeto nababesco. Houve, portanto, dificuldades de financiamento. Wagner recebeu propostas de Londres, Chicago, e até mesmo de Pedro II, imperador do Brasil, que lhe ofereciam ajuda e um local para a construção do teatro, mas no final ele acabou escolhendo Bayreuth. Vários motivos o levaram a fazer essa escolha. A cidade ficava na Baviera, mas próxima à fronteira norte, ocupando uma posição geográfica próxima ao centro do território alemão. Não havia lá nenhuma temporada teatral regular, nenhum spa ou centro turístico por perto; ou seja, nada para desviar a atenção ou concorrer com o seu festival. E as autoridades certamente apoiariam um projeto que traria novo comércio e daria nova vida ao local. O único defeito da cidade — mas isso Wagner só descobriria mais tarde — era ser demasiado chuvosa.
Wagner bolou um sistema de financiamento em que ricos patrocinadores do mundo inteiro comprariam Patronatscheine, cédulas de patrocínio que dariam direito a poltronas durante o festival. Houve poucas vendas, e o esquema falhou. O projeto se arrastou por vários anos até que Luís II, juntamente com a Duquesa Helena da Rússia, o Sultão da Turquia e o Quediva do Egito vieram em socorro de Wagner.
A 21 de Novembro de 1874 Wagner colocou a dupla barra final na partitura de Götterdämmerung. A composição do Anel estava finalmente terminada.
A 13 de Agosto de 1876 teve início o primeiro Festival de Bayreuth. Uma verdadeira galáxia de celebridades do mundo inteiro se deslocou para Bayreuth para assistir ao evento. Entre eles, podemos citar: Guilherme I, Imperador da Alemanha; Pedro II, Imperador do Brasil; Luís II, Rei da Baviera; Friedrich Nietzsche e sua irmã Elizabeth; entre os compositores: Franz Liszt, Camille Saint-Saëns, Anton Bruckner, Pyotr Ilyich Tchaikovsky.

Morte em Veneza
A composição de Parsifal, a última ópera de Wagner, foi iniciada em Bayreuth em Agosto de 1877, e terminada a 13 de Janeiro de 1882. Estreou a 30 de Julho do mesmo ano. Nessa época ele já desenvolve um problema cardíaco, sofrendo seu primeiro ataque cardíaco.
Nos últimos anos de vida, Wagner adquiriu o hábito de ir passar todos os invernos na Itália; ele sempre detestou o frio. Em Setembro de 1882 ele deixou Bayreuth pela última vez e foi para Veneza com a mulher e os filhos, e lá se instalou no Palazzo Vendramin, então de propriedade do Duque della Grazia. A família Wagner ocupou uma suíte de dezoito aposentos, que ele decorou magnificamente e mandou borrifar de perfumes delicados. Iam visitá-lo Liszt, o regente judeu Hermann Levi (o primeiro a reger Parsifal), o pianista judeu Joseph Rubinstein (assistente musical de Wagner desde 1872), o pintor judeu Paul Jukovsky — durante toda a sua vida, Wagner sempre teve muitos amigos judeus — o compositor Engelbert Humperdinck. Wagner e Cosima liam seus autores prediletos: Shakespeare, Goethe, Schiller e Calderón de la Barca. Às vezes Wagner tocava ao piano alguma fuga de Bach.
Na última visita que fez a Wagner, a 13 de Janeiro de 1883, Liszt tocou uma peça que compôs de improviso, La Gondole Lugubre. A peça figura a procissão de uma gôndola fúnebre pelos canais de Veneza. Parece que Liszt pressentia que esta seria sua última visita. Exatamente um mês mais tarde, em 13 de fevereiro, Wagner morreu subitamente de um ataque cardíaco, nos braços de Cosima e cercado pelos filhos. Seu funeral foi realizado em Bayreuth.
Após a morte de Wagner, a direção do Festival de Bayreuth passou para sua viúva, Cosima. Ela renunciou em 1906, e seu filho Siegfried assumiu a direção. Cosima e Siegfried morreram ambos em 1930, e a direcção do festival passou então para a viúva de Siegfried, Winifred Wagner. Winifred era nazista e muito amiga de Adolf Hitler, por isso ao final da guerra ela foi condenada à prisão com sursis e afastada da direção do teatro; assumiram então seus dois filhos, Wieland e Wolfgang. Entretanto, Wieland morreu em 1966, e Wolfgang continuou no cargo até 2008, quando deixou o cargo.




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